A garganta está apertada, dolorida. A respiração muda de ritmo para evitar o que é iminente. Os olhos fecham e os pensamentos tentam mudar de rumo. No entanto, à medida que eles focam nos afazeres cotidianos, a dor te mantém alerta com o que está por vir.
Então, presta-se atenção na música - uma língua que não seja a materna deve ajudar a dispersar a visita indesejada.
A melodia o fluxo de pensamentos os olhos fechados a dor o escuro a dor as tarefas do dia seguinte postas e repostas em ordem a dor incessantemente a dor o futuro a dor o passado a dor o presente a dor a dor a dor a dor.
Como uma barreira, as pálpebras fechadas se pressionam: a primeira desce pelo lado direito, fria. É possível sentir o caminho que ela percorre no rosto, lentamente. Depois, sente-se que a batalha está perdida - é preciso eliminar o peso que se sente, para que se siga a vida.
Os olhos se rendem. Já não se pode sentir o caminho seguido, porque elas são muitas. As pressões no peito e na garganta se transformam nos gemidos característicos da dor. Está-se diante da sonorização da dor.
A limpeza do interior termina com a face molhada, com os lábios salgados e um profundo suspiro - o qual te evidencia quão fundo e desconhecido se é.
É a vez da mente descansar. Finalmente, o sono chega, ainda que atrasado, devido aos burburinhos da mente, uma pressão na garganta e uma respiração descontrolada.