terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sobre o chorar




    A garganta está apertada, dolorida. A respiração muda de ritmo para evitar o que é iminente. Os olhos fecham e os pensamentos tentam mudar de rumo. No entanto, à medida que eles focam nos afazeres cotidianos, a dor te mantém alerta com o que está por vir.
    Então, presta-se atenção na música - uma língua que não seja a materna deve ajudar a dispersar a visita indesejada.

   A melodia o fluxo de pensamentos os olhos fechados a dor o escuro a dor as tarefas do dia seguinte postas e repostas em ordem a dor incessantemente a dor o futuro a dor o passado a dor o presente a dor a dor a dor a dor.

  Como uma barreira, as pálpebras fechadas se pressionam: a primeira desce pelo lado direito, fria. É possível sentir o caminho que ela percorre no rosto, lentamente. Depois, sente-se que a batalha está perdida - é preciso eliminar o peso que se sente, para que se siga a vida.
  Os olhos se rendem. Já não se pode sentir o caminho seguido, porque elas são muitas. As pressões no peito e na garganta se transformam nos gemidos característicos da dor. Está-se diante da sonorização da dor.

  A limpeza do interior termina com a face molhada, com os lábios salgados e um profundo suspiro - o qual te evidencia quão fundo e desconhecido se é.
 É a vez da mente descansar. Finalmente, o sono chega, ainda que atrasado, devido aos burburinhos da mente, uma pressão na garganta e uma respiração descontrolada.

                                         Ou seria a dor seu principal obstáculo?




"I'm going away for a while
But I'll be back, don't try to follow me
'Cause I'll return as soon as possible
See I'm trying to find my place
But it might not be here where I feel safe
We all learn to make mistakes..."
(Misguided Ghosts- Paramore)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Por aquele momento, somente.

E se, de repente, a gente acorda, olha ao redor, e percebe que a construção do nosso ser foi uma mentira em vários aspectos? Em todos os aspectos ou em um aspecto, tanto faz.

Por coincidência ou não, um trecho de um filme retrata exatamente o que eu sinto em relação ao "amor":

"Achei melhor parar de romancear as coisas. Eu vivia sofrendo o tempo todo.Tenho muitos sonhos que não têm nada a ver com a minha vida afetiva. Isso não me entristece, mas as coisas são assim...Obviamente não sei lidar com o cotidiano de um relacionamento.É emocionante.Quando ele viaja,sinto saudades...mas não morro por dentro.Ter alguém sempre por perto me sufoca."
"Você disse que precisa amar e ser amada."
"Mas, quando acontece, sinto enjoo. É um desastre. Só fico realmente feliz quando estou sozinha. Estar só é melhor do que sentir solidão ao lado de um amante. Pra mim não é fácil ser romântica. Você começa assim...mas depois de se dar mal algumas vezes esquece seus devaneios e aceita o que a vida lhe dá. Não é verdade. Não me dei mal. Tive muitas relações sem graça. Não foram cruéis. Me amaram mas não havia uma ligação nem emoção. Eu, pelo menos, não senti."*



Pois bem, como ela disse, não é algo que entristece. Só que, agora que as coisas estão esclarecidas para mim,  não vejo motivos e não sinto impulsão em procurar nas pessoas aquela que, talvez, faça-me ver "o céu mais azul".



Acho que são os momentos, e não os relacionamentos, o que importa realmente. Neles, palavras ditas como verdades inabaláveis ressoam bem e os momentos de carinho poderiam durar indeterminadamente. Mas tudo isso só por um momento. Só momentos, que depois são desconfigurados pelo ato de lembrar, são retorcidos por impressões que não tinham espaço naqueles instantes. É isso e nada mais. Recordações.

Reducionismo?

A minha perspectiva é a de quem sabe que o momento não volta e, por isso, curte-o o máximo possível, para que nas recordações, as impressões posteriores não estraguem o que se viveu e para que as transfigurações não tomem conta do que realmente fez parte de mim... por aquele momento, somente.





*Filme: Antes do pôr do Sol.

Créditos ao blog da Calil, que maravilhosamente me fez lembrar de um dos filmes de que mais gosto.
- permutacotidiana.blogspot.com

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Os 90 minutos

         
                Antes do apito, a escalação. Desde aí os pitacos, e ele já vai dando um de técnico do time: "Como assim o Maicosuel no ataque? Ah Joel! Ah Joel!"
                Depois, ele se lembra da gloriosa camisa e do fato de ela não estar no seu cantinho de costume - não,não é no corpo, mas na mesa da sala. Estendida lá, com suas diversas assinaturas do elenco do estrela solitária ( sim, o Jefferson, goleiro da seleção, deixou sua marca gloriosa), a blusa do Botafogo segue na empreitada de trazer sorte para o time.

                O apito soa. Mais um jogo comum, de uma rodada qualquer.

                O cheiro da expectativa e da apreensão pairam no ar: jogo na casa do adversário santista, com Neymar e sua trupe em campo.
                 Bola vai. Bola vem. TENSÃO. Defesasasaças do Jefferson!
                 " É... Tá complicado. Se conseguir o empate  tá bom..."- ele pensa.
                 As reclamações vão deixando seu local de origem - o cerébro- para se verbalizarem. Transformam-se, assim, em sons, para que daqui da sala cheguem aos ouvidos do Joel.
                 Os protestos agora tornam alvo o Loco. Loucura, no entanto, é esperar esperançosamente até os últimos segundos por um gol...

                 GOOOOOL! ( gritado da varanda com dois objetivos principais: confraternização botafoguense e balde de água fria nos goradores de plantão). Quarentaecincominutosdosegundotempo e golmarcadopeloLoco. Vai entender as insanidades do destino.

                 Aí vem o : " Acabou, seu juiz! Acabou!"

                 O apito soa. Mais um jogo comum, de uma rodada qualquer.

                 Agora, porém, o ar cheira à alegria, a orgulho e... à expectativa.
                 Então, segue-se o de praxe: comentário pós-jogo, encenação do gol ( com movimentos detalhados para a irmã flamenguista), olho na TV para ver os reprises, checada nos sites para ler e reler a notícia sabida. Elogios ao autor do gol.




                  Apesar disso ser um recorte dos 90 minutos de jogo no acolho familiar, acho que as particularidades de todos os gloriosos são - se isso é possível- iguais.






Obs.: Este texto é uma homenagem ao meu irmão Rafael e a todos os botafoguenses queridos que fazem parte da minha vida.=)

            

domingo, 5 de setembro de 2010

"O que você quer da sua vida?"

               " - O que você quer da sua vida?"
               Esta pergunta a tem atormentado. Anos atrás, a resposta viria como em um texto gravado e repassado minimamente, durante os ensaios de meses:
               " - Vou entrar na faculdade. Me formar. Conseguir um emprego que pague bem. Ter minha casa. Viajar..."
               E a imaginação corria até o momento de ela se lembrar da realidade a sua volta. O choque com o presente não trazia nenhuma dúvida. Na certeza de tudo, ela seguia em frente.
               Agora é diferente. " O que você quer da sua vida?" bóia em sua cabeça e não se dissolve. Como água e óleo, que juntos não se misturam; não podem se tornar uma coisa só. E sabe porquê? Polaridade. Cargas e não-cargas. Não se combinam.
                Alguém, alguma vez, já tentou avisar para o mundo que as coisas não são certas? Que a padronização de vidas é impossível? Porque cada um é um?
                 Unicamente. Diferentemente. Desigualmente.
                 O choque de realidade, agora, leva-a para o combate entre seus sólidos sonhos certos e ...
                 Palavras, que definem, não definem no momento.
                 A Realidade seria sua rival?
                 Mas o que é a Realidade senão a acumulação de experiências que formam o indivíduo, e este, atuando em sua PRÓPRIA realidade, constitui-se como tal a partir das experiências que dela provém?


                 Algo que ela consegue pensar neste instante:
                 " A incerteza de tudo
                   Na certeza de nada."*

                 E algumas questões vão ficando sem respostas.



*Balanço- Carlos Drummond de Andrade.