Ouvir 30 seconds to Mars ao mesmo tempo em que leio Clarice Lispector não é - ou talvez seja- uma mistura interessante.
A angústia, que vem vindo de fininho há dias, explodiu. Agora me encontro com um estômago imprensado, uma falta de ar e o choro entalado na garganta.
Digamos que muita, mas muita coisa mesmo aconteceu neste fim de período/ começo de férias.
Deparei-me com ações e sentimentos que não acreditava que existiam nem nos filmes que tentavam transmiti-los.
No entanto, também me deparei com ações e sentimentos que me fizeram ter orgulho de quem eu venho me tornando e, além disso, deparei-me com semelhantes: não estou só.
Deparei-me com problemas. Dos grandes. Eles me fizeram bastante tristes. Fizeram-me sentir relapsa, ausente quando não poderia estar e impotente.
Egoísta, com certeza.
Deixei que o tempo fizesse seu trabalho. Eu fiz o meu. As coisas começam a andar nos seus eixos novamente. Assim espero.
A ansiedade que toma conta de mim no fim de ano não veio esse ano. Espero que minha vontade de chorar não esteja relacionada a isso. É estranho dizer, mas nesse momento, eu afirmo que nenhum de nós somos um, somente. Somos dezenas. Dezenas que talvez tenham a mesma essência. Talvez não. Mas algo os une. A interseção deles deve ser o que chamamos de 'estar vivo'.
No momento, alguém de quem eu gosto está no controle: realista e triste na medida exata. A felicidade é sim momentânea. Mesmo que estes momentos sejam constantes. Mesmo que eles apareçam a cada hora do dia. Todo dia, toda hora, todo minuto.
As expectativas ainda não retornaram. A necessidade toma o lugar delas e executa a tarefa de sonhar.
"Took our chance
Crashed and burned
No We'll never ever learn
I fell apart
But got back up again
an then I fell apart
But got back up again."
(Alibi-30 seconds To Mars)
"Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim." (Clarice Lispector - Felicidade Clandestina)
A ideia de escrever em um blog parte de não sei onde. É meio desconfortável expor meus textos, mas decidi encarar isso. Pelo menos não mudei de pensamento nas últimas horas. Por enquanto.=)
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
A vida assim no afeiçoa (Manuel Bandeira)
Seria a morte o sumo bem.
Libertadora, apetecida,
A alma dir-lhe-ia, ansiosa: - Vem!
Quer para a bem-aventurança
Leves de um mundo espiritual
A minha essência, onde a esperança
Pôs o seu hálito vital;
Quer no mistério que te esconde,
Tu sejas, tão somente, o fim:
- Olvido, impertubável, onde
"Não restará nada de mim!"
Mas horas há que marcam fundo...
Feitas, em cada um de nós,
De eternidades de segundo,
Cuja saudade extingue a voz.
Ao nosso ouvido, embaladora,
A ama de todos os mortais,
A esperança prometedora,
Segreda coisas irreais.
E a vida vai tecendo laços
Quase impossíveis de romper:
Tudo o que amamos são pedaços
Vivos do nosso próprio ser.
A vida assim nos afeiçoa,
Prende. Antes fosse toda fel!
Que ao se mostrar às vezes boa,
Ela requinta em ser cruel...
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Pontos de Interseção
O que ela enxerga do alto é uma linha reta. Subitamente, no entanto, ela se vê na linha. A perspectiva dentro-fora se altera constantemente, sem um padrão seguido, sem a submissão a uma vontade.
O olhar percorre a tal linha e percebe os pontos de interseção. Eles são múltiplos e também não seguem uma lógica, aparentemente.
Na maioria das vezes, apesar de ver as interseções, ela não compreende o sentido delas de imediato.
Alguns pontos ela ignora, já que as circunstâncias externas atrapalham a sensibilidade de percepção. Lamenta-se por isso, porque a essência foi perdida; logo, não se incorporou à caminhada, ainda que concretamente presentes.
Há alguns pontos de encontro que são extremamente peculiares: marcam pela intensidade do contato, pelas trocas que deles decorrem. Não são só trocas materiais; são fluxos de energia através dos quais se é possível captar, sentir, vibrar além e para além de tudo que se percebe comumente...
Rapidamente, o instante se esvai. Já que só um ponto, não faz sentido querer prolongá-lo, querer dimensioná-lo ou querer aprisioná-lo. No entanto, mesmo sendo o instante, ele existiu e constituiu a reta e constituiu planos.
Daí, quem sabe, também horizontes e nortes.
domingo, 24 de outubro de 2010
Desde já

Introspecção é uma característica que eu não queria que fizesse parte de mim. Obviamente, a capacidade de autoavaliação é imprescindível para o próprio crescimento.
No entanto, a intensidade da minha introspecção é preocupante. E irresolúveis são os problemas que dela surgem. Irresolúveis porque muitas vezes são criações de uma mente desesperada. De uma mente que ainda não entendeu-
Sem volta.
Sem lembrar o que me prende aqui. Sem lembrar o MOTIVO CONCRETO, PAUPÁVEL E IMEDIATO. Único que sou capaz de mensurar. Único conhecido e mesmo assim insuficiente?
Se insuficiente, ingratidão. Ingratidão.
Decidi não ser ingrata: desde já não penso mais.
Escutando: Ball and Chain - Janis Joplin
domingo, 10 de outubro de 2010
Tabacaria -Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
- Álvaro de Campos, 15-1-1928
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Roda de Jongo
Impressionante como algo de que nunca se ouviu falar pode encantar uma pessoa no mesmo segundo, no primeiro contato visual e sonoro.
A energia dos tambores era contagiante e a cada batida era como se algo adormecido dentro de mim acordasse. As pessoas que formavam a roda e as que dançavam na roda transmitiam uma felicidade e uma leveza inigualável e nunca antes por mim sentida. Em volta, as pessoas batiam palmas e cantavam no ritmo as letras simples, que, aparentemente, versavam sobre o cotidiano dos negros escravos, mas com significações mais profundas existentes por trás das metáforas.
Então, eu realmente senti o que Eduardo Galeano quis dizer quando escreveu sobre a importância da cultura para um país. Veja bem, eu sempre tive contato com a MPB, com o Samba e o Forró (ritmos indiscutivelmente brasileiros), mas foi o Jongo que me permitiu entender de fato essa importância. É na propagação das tradições, dos costumes, das crenças que a memória do país continua viva. E por que manter o passado vivo? Porque assim, mantemos a história viva. Porque assim, conhecemos o que nos fez chegar onde estamos. Porque assim, somos capazes de entender, gostar e valorizar o que nos constitui. Porque assim temos uma identidade.
Enfim, conhecer a cultura de um país é autoconhecimento. Vamos valorizá-la, cultivá-la, preservá-la. Não importa com qual você se identifique, - o Brasil é tão grande e multicultural que as possibilidades de identificação são imensas- apenas faça dela uma das chaves que protegerão o seu país.
Obs: Obrigada, Amanda, por me apresentar a algo tão fantástico.
Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=by074Qs3iIM&feature=related
(Ainda não aprendi colocar vídeo aqui..hehe)
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Sobre o chorar
A garganta está apertada, dolorida. A respiração muda de ritmo para evitar o que é iminente. Os olhos fecham e os pensamentos tentam mudar de rumo. No entanto, à medida que eles focam nos afazeres cotidianos, a dor te mantém alerta com o que está por vir.
Então, presta-se atenção na música - uma língua que não seja a materna deve ajudar a dispersar a visita indesejada.
A melodia o fluxo de pensamentos os olhos fechados a dor o escuro a dor as tarefas do dia seguinte postas e repostas em ordem a dor incessantemente a dor o futuro a dor o passado a dor o presente a dor a dor a dor a dor.
Como uma barreira, as pálpebras fechadas se pressionam: a primeira desce pelo lado direito, fria. É possível sentir o caminho que ela percorre no rosto, lentamente. Depois, sente-se que a batalha está perdida - é preciso eliminar o peso que se sente, para que se siga a vida.
Os olhos se rendem. Já não se pode sentir o caminho seguido, porque elas são muitas. As pressões no peito e na garganta se transformam nos gemidos característicos da dor. Está-se diante da sonorização da dor.
A limpeza do interior termina com a face molhada, com os lábios salgados e um profundo suspiro - o qual te evidencia quão fundo e desconhecido se é.
É a vez da mente descansar. Finalmente, o sono chega, ainda que atrasado, devido aos burburinhos da mente, uma pressão na garganta e uma respiração descontrolada.
"I'm going away for a while
But I'll be back, don't try to follow me
'Cause I'll return as soon as possible
See I'm trying to find my place
But it might not be here where I feel safe
We all learn to make mistakes..."
But I'll be back, don't try to follow me
'Cause I'll return as soon as possible
See I'm trying to find my place
But it might not be here where I feel safe
We all learn to make mistakes..."
(Misguided Ghosts- Paramore)
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Por aquele momento, somente.
E se, de repente, a gente acorda, olha ao redor, e percebe que a construção do nosso ser foi uma mentira em vários aspectos? Em todos os aspectos ou em um aspecto, tanto faz.
Por coincidência ou não, um trecho de um filme retrata exatamente o que eu sinto em relação ao "amor":
"Achei melhor parar de romancear as coisas. Eu vivia sofrendo o tempo todo.Tenho muitos sonhos que não têm nada a ver com a minha vida afetiva. Isso não me entristece, mas as coisas são assim...Obviamente não sei lidar com o cotidiano de um relacionamento.É emocionante.Quando ele viaja,sinto saudades...mas não morro por dentro.Ter alguém sempre por perto me sufoca."
"Você disse que precisa amar e ser amada."
"Mas, quando acontece, sinto enjoo. É um desastre. Só fico realmente feliz quando estou sozinha. Estar só é melhor do que sentir solidão ao lado de um amante. Pra mim não é fácil ser romântica. Você começa assim...mas depois de se dar mal algumas vezes esquece seus devaneios e aceita o que a vida lhe dá. Não é verdade. Não me dei mal. Tive muitas relações sem graça. Não foram cruéis. Me amaram mas não havia uma ligação nem emoção. Eu, pelo menos, não senti."*
Pois bem, como ela disse, não é algo que entristece. Só que, agora que as coisas estão esclarecidas para mim, não vejo motivos e não sinto impulsão em procurar nas pessoas aquela que, talvez, faça-me ver "o céu mais azul".
Acho que são os momentos, e não os relacionamentos, o que importa realmente. Neles, palavras ditas como verdades inabaláveis ressoam bem e os momentos de carinho poderiam durar indeterminadamente. Mas tudo isso só por um momento. Só momentos, que depois são desconfigurados pelo ato de lembrar, são retorcidos por impressões que não tinham espaço naqueles instantes. É isso e nada mais. Recordações.
Reducionismo?
A minha perspectiva é a de quem sabe que o momento não volta e, por isso, curte-o o máximo possível, para que nas recordações, as impressões posteriores não estraguem o que se viveu e para que as transfigurações não tomem conta do que realmente fez parte de mim... por aquele momento, somente.
*Filme: Antes do pôr do Sol.
Créditos ao blog da Calil, que maravilhosamente me fez lembrar de um dos filmes de que mais gosto.
- permutacotidiana.blogspot.com
Por coincidência ou não, um trecho de um filme retrata exatamente o que eu sinto em relação ao "amor":
"Achei melhor parar de romancear as coisas. Eu vivia sofrendo o tempo todo.Tenho muitos sonhos que não têm nada a ver com a minha vida afetiva. Isso não me entristece, mas as coisas são assim...Obviamente não sei lidar com o cotidiano de um relacionamento.É emocionante.Quando ele viaja,sinto saudades...mas não morro por dentro.Ter alguém sempre por perto me sufoca."
"Você disse que precisa amar e ser amada."
"Mas, quando acontece, sinto enjoo. É um desastre. Só fico realmente feliz quando estou sozinha. Estar só é melhor do que sentir solidão ao lado de um amante. Pra mim não é fácil ser romântica. Você começa assim...mas depois de se dar mal algumas vezes esquece seus devaneios e aceita o que a vida lhe dá. Não é verdade. Não me dei mal. Tive muitas relações sem graça. Não foram cruéis. Me amaram mas não havia uma ligação nem emoção. Eu, pelo menos, não senti."*
Pois bem, como ela disse, não é algo que entristece. Só que, agora que as coisas estão esclarecidas para mim, não vejo motivos e não sinto impulsão em procurar nas pessoas aquela que, talvez, faça-me ver "o céu mais azul".
Acho que são os momentos, e não os relacionamentos, o que importa realmente. Neles, palavras ditas como verdades inabaláveis ressoam bem e os momentos de carinho poderiam durar indeterminadamente. Mas tudo isso só por um momento. Só momentos, que depois são desconfigurados pelo ato de lembrar, são retorcidos por impressões que não tinham espaço naqueles instantes. É isso e nada mais. Recordações.
Reducionismo?
A minha perspectiva é a de quem sabe que o momento não volta e, por isso, curte-o o máximo possível, para que nas recordações, as impressões posteriores não estraguem o que se viveu e para que as transfigurações não tomem conta do que realmente fez parte de mim... por aquele momento, somente.
*Filme: Antes do pôr do Sol.
Créditos ao blog da Calil, que maravilhosamente me fez lembrar de um dos filmes de que mais gosto.
- permutacotidiana.blogspot.com
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Os 90 minutos
Antes do apito, a escalação. Desde aí os pitacos, e ele já vai dando um de técnico do time: "Como assim o Maicosuel no ataque? Ah Joel! Ah Joel!"
Depois, ele se lembra da gloriosa camisa e do fato de ela não estar no seu cantinho de costume - não,não é no corpo, mas na mesa da sala. Estendida lá, com suas diversas assinaturas do elenco do estrela solitária ( sim, o Jefferson, goleiro da seleção, deixou sua marca gloriosa), a blusa do Botafogo segue na empreitada de trazer sorte para o time.
O apito soa. Mais um jogo comum, de uma rodada qualquer.
O cheiro da expectativa e da apreensão pairam no ar: jogo na casa do adversário santista, com Neymar e sua trupe em campo.
Bola vai. Bola vem. TENSÃO. Defesasasaças do Jefferson!
" É... Tá complicado. Se conseguir o empate tá bom..."- ele pensa.
As reclamações vão deixando seu local de origem - o cerébro- para se verbalizarem. Transformam-se, assim, em sons, para que daqui da sala cheguem aos ouvidos do Joel.
Os protestos agora tornam alvo o Loco. Loucura, no entanto, é esperar esperançosamente até os últimos segundos por um gol...
GOOOOOL! ( gritado da varanda com dois objetivos principais: confraternização botafoguense e balde de água fria nos goradores de plantão). Quarentaecincominutosdosegundotempo e golmarcadopeloLoco. Vai entender as insanidades do destino.
Aí vem o : " Acabou, seu juiz! Acabou!"
O apito soa. Mais um jogo comum, de uma rodada qualquer.
Agora, porém, o ar cheira à alegria, a orgulho e... à expectativa.
Então, segue-se o de praxe: comentário pós-jogo, encenação do gol ( com movimentos detalhados para a irmã flamenguista), olho na TV para ver os reprises, checada nos sites para ler e reler a notícia sabida. Elogios ao autor do gol.
Apesar disso ser um recorte dos 90 minutos de jogo no acolho familiar, acho que as particularidades de todos os gloriosos são - se isso é possível- iguais.
Obs.: Este texto é uma homenagem ao meu irmão Rafael e a todos os botafoguenses queridos que fazem parte da minha vida.=)
domingo, 5 de setembro de 2010
"O que você quer da sua vida?"
" - O que você quer da sua vida?"
Esta pergunta a tem atormentado. Anos atrás, a resposta viria como em um texto gravado e repassado minimamente, durante os ensaios de meses:
" - Vou entrar na faculdade. Me formar. Conseguir um emprego que pague bem. Ter minha casa. Viajar..."
E a imaginação corria até o momento de ela se lembrar da realidade a sua volta. O choque com o presente não trazia nenhuma dúvida. Na certeza de tudo, ela seguia em frente.
Agora é diferente. " O que você quer da sua vida?" bóia em sua cabeça e não se dissolve. Como água e óleo, que juntos não se misturam; não podem se tornar uma coisa só. E sabe porquê? Polaridade. Cargas e não-cargas. Não se combinam.
Alguém, alguma vez, já tentou avisar para o mundo que as coisas não são certas? Que a padronização de vidas é impossível? Porque cada um é um?
Unicamente. Diferentemente. Desigualmente.
O choque de realidade, agora, leva-a para o combate entre seus sólidos sonhos certos e ...
Palavras, que definem, não definem no momento.
A Realidade seria sua rival?
Mas o que é a Realidade senão a acumulação de experiências que formam o indivíduo, e este, atuando em sua PRÓPRIA realidade, constitui-se como tal a partir das experiências que dela provém?
Algo que ela consegue pensar neste instante:
" A incerteza de tudo
Na certeza de nada."*
E algumas questões vão ficando sem respostas.
*Balanço- Carlos Drummond de Andrade.
Esta pergunta a tem atormentado. Anos atrás, a resposta viria como em um texto gravado e repassado minimamente, durante os ensaios de meses:
" - Vou entrar na faculdade. Me formar. Conseguir um emprego que pague bem. Ter minha casa. Viajar..."
E a imaginação corria até o momento de ela se lembrar da realidade a sua volta. O choque com o presente não trazia nenhuma dúvida. Na certeza de tudo, ela seguia em frente.
Agora é diferente. " O que você quer da sua vida?" bóia em sua cabeça e não se dissolve. Como água e óleo, que juntos não se misturam; não podem se tornar uma coisa só. E sabe porquê? Polaridade. Cargas e não-cargas. Não se combinam.
Alguém, alguma vez, já tentou avisar para o mundo que as coisas não são certas? Que a padronização de vidas é impossível? Porque cada um é um?
Unicamente. Diferentemente. Desigualmente.
O choque de realidade, agora, leva-a para o combate entre seus sólidos sonhos certos e ...
Palavras, que definem, não definem no momento.
A Realidade seria sua rival?
Mas o que é a Realidade senão a acumulação de experiências que formam o indivíduo, e este, atuando em sua PRÓPRIA realidade, constitui-se como tal a partir das experiências que dela provém?
Algo que ela consegue pensar neste instante:
" A incerteza de tudo
Na certeza de nada."*
E algumas questões vão ficando sem respostas.
*Balanço- Carlos Drummond de Andrade.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Nostalgia
Nostalgia. Uma palavra que define o que eu sinto agora. Uma palavra, no entanto, que talvez não contemple a totalidade dos sentimentos.
Sentimento que aumenta e aumenta. Saudade que não se esvai.
Amadurecimento. Isso dói?
Dói.
E uns versos de uma música, que se rende a esse momento, martelam em minha mente:
"The hardest thing is rendering a
moment moving too fast to endure
But you abide and smile wide cause
i want to remember this for sure."*
Devaneios. E aquela dorzinha que incomoda lá no fundo.
"Look alive. Be alive." Eu repito para mim mesma.
E eu não volto ao meu passado. Eu sou o meu passado.
Nostalgia.
*Look alive- Incubus.
Na foto: eu, Ísis e Iana.
domingo, 29 de agosto de 2010
Aprendizado (Ferreira Gullar)
Do mesmo modo que te abriste à alegria
abra-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.
abra-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Sensações
Cheiro de sal.
Gosto de sal.
Vazio.
Luzes.
Silêncio.
Sombra.
Sombra.
Sombra.
Frio.Arrepio.
Lasso.
Barulho.
Realidade.
Gosto de sal.
Vazio.
Luzes.
Silêncio.
Sombra.
Sombra.
Sombra.
Frio.Arrepio.
Lasso.
Barulho.
Realidade.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
O Passado
Agora,
Eu sinto como se partes do meu corpo
Fossem caindo
E se perdendo pelo caminho.
Agora,
Tudo o que costumava conhecer
Desconfigura-se.
Agora,
A dor vem chegando:
O sentimento de não pertencimento
a este lugar
É notório.
Agora,
Não há sensação de conforto;
Encontro-me,
Quando muito,
Com a repugnância.
Agora,
A indiferença
Prevalece.
Agora,
Pessoas que antes me entendiam,
Não são capazes de olhar
além das palavras ditas.
Agora,
Os gestos,
Os movimentos,
Os costumes
Não lhes dizem mais nada.
Agora, a superficialidade prevalece.
Agora,
Partiria.
Agora,
Sairia como andarilho.
Às palavras,
Porém,
Reduz-me,
O Passado.
sábado, 21 de agosto de 2010
A brincadeira
Não é minha intenção escrever constantemente neste blog. No entanto, hoje, li um trecho com o qual me identifiquei bastante no livro A brincadeira, do Milan Kundera. Então, irei reproduzi-lo aqui, para quem quiser pensar um pouco também.=)
"Uma onda de raiva contra mim mesmo me inundou, raiva contra minha idade de então, contra a estúpida idade lírica, em que somos a nossos olhos um enigma grande demais para que possamos nos interessar pelos enigmas que estão fora de nós, em que os outros (mesmos os mais amados) são apenas espelhos móveis onde encontramos, espantados, a imagem de nosso próprio sentimento, de nossa própria emoção, de nosso próprio valor."
(A brincadeira - Milan Kundera;1967; pag. 261)
"Uma onda de raiva contra mim mesmo me inundou, raiva contra minha idade de então, contra a estúpida idade lírica, em que somos a nossos olhos um enigma grande demais para que possamos nos interessar pelos enigmas que estão fora de nós, em que os outros (mesmos os mais amados) são apenas espelhos móveis onde encontramos, espantados, a imagem de nosso próprio sentimento, de nossa própria emoção, de nosso próprio valor."
(A brincadeira - Milan Kundera;1967; pag. 261)
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Pensamentos que se exteriorizaram hoje.
Sobre as transformações que ocorrem em mim, não sei exatamente o que pensar. Mas suas intensidades me incomodam.
A cada dia, penso algo novo, chego a conclusões novas. A cada dia, as mudanças me atingem de maneira abrupta. Elas não me perguntam se podem chegar. Elas nem ao menos me avisam que vão chegar. Simplesmente veem e assolam minha mente de conflitos.
Eu sei que isso é natural (eu espero, pelo menos). No entanto, os pensamentos são tantos e tão complexos. Tão bobos e tão efêmeros, às vezes. Mas eles tomam minha cabeça. E a convivência comigo mesma torna-se insuportável. Os pensamentos me trazem as dúvidas. Os pensamentos me trazem os questionamentos sobre mim mesma, sobre minhas ações, sobre os outros, sobre a sociedade. E sobre meu ser inserido nela.
A maneira que isso me consome acaba me tornado vazia de vontades. Então o desestímulo me toma. As ações e cumprimentos dos deveres tornam-se mecanizados.
Eu odeio esse estado de nada.
O estado de nada pesa-me. O fato de estar viva ( ou é o hábito de nosso corpo de não se encontrar nesse estado, comumente?) me cobra a retomada das vontades. No entanto, elas não veem.
Aí eu me pergunto qual o problema do mundo, porque a perspectiva de mundo parte de mim. Então, o mundo torna-se nada. Não há sentido nas coisas. Não há vontade minha nas coisas ou nas pessoas. Não há vontade minha no lugar em que estou. Nos lugares que frequento, não há minha vontade.
E tudo isso só porque quero escapar de mim. Quero fugir!
Quero saber se posso ficar nesse estado de nada sem me lembrar das expectativas externas. De mim já não partem expectativas.
Só há mecanização.( Até aqui fui atingida pela podridão irracional das máquinas!)
Só há mecanização.
A cada dia, penso algo novo, chego a conclusões novas. A cada dia, as mudanças me atingem de maneira abrupta. Elas não me perguntam se podem chegar. Elas nem ao menos me avisam que vão chegar. Simplesmente veem e assolam minha mente de conflitos.
Eu sei que isso é natural (eu espero, pelo menos). No entanto, os pensamentos são tantos e tão complexos. Tão bobos e tão efêmeros, às vezes. Mas eles tomam minha cabeça. E a convivência comigo mesma torna-se insuportável. Os pensamentos me trazem as dúvidas. Os pensamentos me trazem os questionamentos sobre mim mesma, sobre minhas ações, sobre os outros, sobre a sociedade. E sobre meu ser inserido nela.
A maneira que isso me consome acaba me tornado vazia de vontades. Então o desestímulo me toma. As ações e cumprimentos dos deveres tornam-se mecanizados.
Eu odeio esse estado de nada.
O estado de nada pesa-me. O fato de estar viva ( ou é o hábito de nosso corpo de não se encontrar nesse estado, comumente?) me cobra a retomada das vontades. No entanto, elas não veem.
Aí eu me pergunto qual o problema do mundo, porque a perspectiva de mundo parte de mim. Então, o mundo torna-se nada. Não há sentido nas coisas. Não há vontade minha nas coisas ou nas pessoas. Não há vontade minha no lugar em que estou. Nos lugares que frequento, não há minha vontade.
E tudo isso só porque quero escapar de mim. Quero fugir!
Quero saber se posso ficar nesse estado de nada sem me lembrar das expectativas externas. De mim já não partem expectativas.
Só há mecanização.( Até aqui fui atingida pela podridão irracional das máquinas!)
Só há mecanização.
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